Vamos balançar essas redes, agora. Vamos subir a hashtag #forabolsonaromoleque nos TT e mantê-la no ápice, como uma bandeira desfraldada em nome da nossa liberdade de imprensa, liberdade de pensamento, liberdade de nos protegermos diante de uma pandemia, liberdade política. #forabolsonaromoleque #covid_19 #liberdadedeimprensa #liberdadedeexpressão #democraciasempre
Por Marisa Sevilha Rodrigues
Ontem, domingo, Dia Internacional da Imprensa Livre, 03 de maio, o presidente Jair Bolsonaro foi mais uma vez às manifestações em frente do Palácio do Planalto em Brasilia, instigar as pessoas a praticarem o execrável ato de pedir o fechamento do Congresso, do STF (Supremo Tribunal Federal) e, como se não bastasse tudo isso, a protestarem contra a o exercício da liberdade de imprensa, inclusive com cenas de violência explícita: o repórter fotográfico Dida Sampaio, do Estadão, chutado e esmurrado, enquanto tentava fazer imagens do presidente descendo a rampa do palácio, sem máscara, com bandeiras do Brasil, dos Estados Unidos e de Israel (?), e de mãos dadas com crianças, entre elas, a própria filha, de apenas nove anos.
Por diversas vezes, disse que a paciência dele havia acabado, que o Brasil está vivendo um momento muito grave – isso todos já sabemos, com suas inusitadas aparições diárias, no meio de uma pandemia, incitando o povo a sair do isolamento social para combatê-la – dizendo que o Exército estaria com ele, e outras frases desconexas, mas que, na cabeça de um ditador – aliás, aprendiz, né, porquê até nisso ele é ruim – fazem todo o sentido, pois governar com poderes plenos e absolutos é o que ele sempre desejou, manifestando isso claramente, em entrevista publicada a vinte anos atrás, quando disse que se fosse eleito presidente do Brasil, algum dia, mandava fechar tudo (referindo-se ao Congresso e outras instituições, como o STF, etc..etc..), aliás, segundo as próprias palavras dele “daria o golpe no mesmo dia, matava logo uns trinta mil, começando pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso”, propondo uma Guerra Civil. Assista ao vídeo aquihttps://www.youtube.com/watch?v=PGTtIGmOY24
E todos nós, aqui, já conhecemos o enredo deste filme, e também o seu trágico final. Está aqui nossa vizinha Venezuela, que não nos deixa mentir: todo ditador começa seu trabalho sujo, livrando, primeiramente, da imprensa. Tolhendo a liberdade dos jornalistas e dos veículos de comunicação, fechando-os, como Bolsonaro já manifestou desejo de fazê-lo, por diversas vezes, em pouco mais de um ano de mandato, referindo-se diretamente a Folha de São Paulo, e a TV Globo. Na Venezuela, foi uma das primeiras coisas que o ex-ditador Hugo Chaves fêz, fechando as tevês, rádios e jornais, ou transformando-os em estatais, de forma que pudessem publicar apenas uma única voz: a dele. Deu no que deu. O país vive o caos, a miséria e a fome, pois sem o exercício da liberdade plena de expressão, em todos os níveis, começando pela imprensa que faz o papel de instigar a reflexão, permanentemente, de todos os nossos atos, como sociedade, mantendo, assim, acesa a nossa lucidez, nenhuma economia prospera. Depois das empresas jornalísticas, vieram os bancos, a PDVSA – empresa de petróleo, uma das maiores do mundo, a indústria em geral – de A a Z, houve estatização da produção, prejudicando a qualidade e a quantidade, levando aquele País a ter escassez até de papel higiênico nas prateleiras dos supermercados, o que dizer dos produtos de primeira necessidade como arroz, feijão, açúcar, farinha, carne, ovos, hortifrútis, e por aí vai.
É isso que queremos para o Brasil? Quando a maioria das empresas e empresários brasileiros, com maior expressão do agronegócio, escolheu a candidatura de Bolsonaro, para apoiar, usavam exatamente o exemplo da nossa vizinha Venezuela, para justificá-la, como emblema de tudo o que não queriam para o Brasil. E que se mantivéssemos o PT no poder, ou qualquer outro partido de esquerda, iríamos repetir o modelo chavista em terras tupiniquins. Pois bem. Bolsonaro, com tudo o que representava de mais atrasado em política, educação, cultura, história, tudo, enfim, acabou sendo eleito pelo voto da maioria. E, numa democracia, não se discute o resultado das urnas, mesmo que, muito possivelmente — e a CPI das fake new´s vai revelar isso – elas tenham sido manipuladas. Portanto, o Brasil e os brasileiros respiraram fundo e tentaram dar um voto de confiança ao presidente eleito, esperando que ele fosse cumprir minimamente suas promessas de campanha, onde a economia era a grande estrela, e, obvious, respeitar a nossa Constituição.
Entretanto, dia pós dia, não é o que temos visto Bolsonaro fazer, desde a hora em que ele acorda, até a que vai dormir, ele só abre a boca para atacar, subjugar, humilhar, instigar, parecendo ter um prazer mórbido de causar ruído a sua volta. E com isso, proporcionar uma dancinha macabra aos seus espectadores do cercadinho de Brasília, e, por tabela, de todos os brasileiros. Diariamente temos assistido seus rompantes, ora com subordinados diretos, como os ministros, a quem prometeu carta branca, como Moro, Mandetta, entre outros, ora com setores da sociedade em geral. ele age quase sempre em desacordo com os princípios da ética, dos bons costumes, da civilidade e até, porquê não dizê-lo, da saúde mental das pessoas. Como fêz durante toda a campanha, proclamando-se contra negros, índios, gays, mulheres, portadores de HIV, e que foi mostrado à exaustão por toda a imprensa, não só do Brasil, como do mundo, após ser eleito, imaginávamos que ele fosse dar uma trégua, mas nãooooo: ele continuou com seu discurso xenófobo, machista, racista e de ultra-direita, passando de todos os limites civis possíveis e até mesmo, inimagináveis.
Bem, o que é que se poderia esperar de um candidato que dizia que ao visitar um quilombo, percebeu que os negros que lá viviam pesavam umas 50 arrobas – termo usado na pecuária referindo-se a pesagem de bois — e que, por isso, segundo sua visão distorcida, não conseguiriam nem procriar, mais, como se fossem animais? Nós temos a pecuária mais avançada do Brasil, nos preocupamos com o bem-estar e o manejo correto dos rebanhos, nas propriedades, em todas suas fases de vida, em especial durante a reprodução, e vamos deixar que um presidente fale assim, de pessoas, de seres humanos, de brasileiros que tem a marca da escravidão em suas vidas, como os quilombolas? Até hoje, quando me lembro dessa fala do Jair Bolsonaro, me sinto ultrajada: eu, brasileira, branca, neta de imigrantes brancos, colonos trabalhadores análogos aos escravos em fazendas cafeeiras no Oeste paulista, me sinto ultrajada. Humilhada. Execrada e desamparada. Tentei mostrar isso aos meus amigos, familiares, jornalistas, e a todos aqueles com quem convivo ou tenho alguma relação, profissional ou pessoal, durante a campanha. Fui voto vencido. Como democrata que sou, acatei a decisão das urnas.
Mas, a partir do momento em que vejo o já exacerbado comportamento do presidente em direção ao fechamento do Congresso, e de todas nossas instituições livres, começando por tentar amordaçar a imprensa, sou obrigada, como jornalista que sou, a honrar o meu juramento, e defender o meu País dessa postura abjeta. Para mim, também, acabou a paciência. Chega, Bolsonaro, ponto, acabou. Recolha-se a sua insignificância. Não podemos conclamar o povo para ir às ruas, manifestar sua vontade de apeá-lo do poder, para evitarmos um caos maior, no meio de uma pandemia – aliás, meio não, porquê ainda não conseguimos nem achatar a curva do crescimento do Covid-19, mas podemos, sim, fazê-lo através das redes sociais. As mesmas redes que ele tão bem soube usar, a seu favor, para eleger-se, deverão, agora, manifestar todo o seu repúdio a um presidente que dança sobre os caixões dos nossos mais de cinco mil mortos, e que não se acanha diante da inevitável contaminação da população, em especial, da mais vulnerável, que não tem onde isolar-se em suas casas miseráveis em morros de favelas, diante do seu espetáculo grosseiro – nem engraçado chega a ser – de quem “não é moleque” e “tem coragem” de enfrentar o vírus – esse inimigo invisível – de peito aberto, levando a desinformação e, por consequência, a morte, a adentrar a casa dos brasileiros. Vamos balançar essas redes, agora. Vamos subir a hashtag #forabolsonaromoleque nos TT´s e mantê-la no ápice, como uma bandeira desfraldada em nome da nossa liberdade de imprensa, liberdade de pensamento, liberdade de nos protegermos diante de uma pandemia, liberdade política.
Viva a República!
Viva o Brasil!