
Por Marisa Rodrigues, Publisher do portal Boi a Pasto
Decidi começar este perfil da Mariana Beckheuser contando a impressão que ela me causou quando a conheci há quase umas duas décadas, recém-formada em Relações Públicas, trabalhando para uma empresa como a Beckhauser, que eu, recém chegada ao agronegócio, achava perfeita. Não era uma graaaaaaaaaande empresa, mas eles sabiam se posicionar no mercado, e faziam a lição de casa, direitinho, enquanto a maioria ainda engatinhava no assunto. E, por isso, a Beckhauser se destacava a olhos vistos da maioria das empresas e dos concorrentes. Isso aconteceu numa feira da Agrishow, em Ribeirão Prêto, interior de São Paulo, e de de lá prá cá, a Mariana e a BH, que prá mim, são uma fusão de um propósito, como ela vai nos explicar mais para a frente, só continuaram firmes com esse objetivo de, cada vez mais, levantar bem alto a questão do bem-estar animal, fazendo disso o marketing do bem.
Mas como ela própria nos conta, isso tudo foi um processo. No início, recém formada pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), e com pós em Comunicação Popular e Comunitária, ela lembra que não escolheu administração porquê não pretendia trabalhar na empresa dos seus pais, pois sentia que isso pareceria que não poderia criar o seu espaço ou estaria sempre à sombra da família, e que, talvez não conseguisse fazer algo por si mesma. “Durante a faculdade passei por um estágio na Secretaria de Cultura de Londrina, mas a maioria dos meus trabalhos da graduação fiz em instituições beneficentes e com cunho social”, relata. Assim, seguiu trabalhando um pouco em outras empresas, mas dois anos depois, quando concluía sua pós, fêz um trabalho de conclusão de curso sobre a Beckhauser, em que trazia uma idéia ligada com algo que já acreditava, e que depois se desdobrou no que hoje direciona seu trabalho na gestão do negócio, que era o impacto social da empresa no meio ambiente. Foi aí, diz Mariana, que caiu a sua ficha de que se trabalhasse com a família, poderia ter muito mais espaço e condições de influenciar a instituição nesse caminho.
Na verdade, a estória de Mariana Beckheuser ( que não é Beckhauser, por um erro de cartório!!!), se mistura com a estória da BH, porquê é isso que ela viveu, junto com seus pais, desde criança. As estórias da família se imbricam com a estória do negócio, e vice-versa, e, simplesmente não existiriam, um sem o outro. “Meu pai e minha mãe trabalhavam juntos (e muito) e meu pai sempre foi um cara super apaixonado com a atividade e, principalmente, com o desenvolvimento de inovações. Nossa brincadeira de criança era fazer dos equipamentos de contenção um parque de diversões nas feiras agropecuárias. Cresci convivendo com as estórias, os parceiros… e o que mais me conecta até hoje, a toda a instituição, são justamente os valores base da marca: a vontade de fazer sempre melhor e perseguir isso incansável e entusiasticamente; e a visão do bem-estar animal e humano.
Para Mariana, esses animais que vão nos prover alimento merecem ser tratados com respeito aos seus comportamentos e às diretrizes das 5 Liberdades (acordo internacional que pauta o bem-estar animal) e é isso que direciona todo o desenvolvimento dos equipamentos da empresa, e também sua proposta de comunicar esse propósito mercadológico aos clientes, técnicos, estudantes e sobretudo aos peões, que são os que estão na lida diária com os animais. Segundo a presidente da BeckHauser, essa decisão nasceu do encontro de seu pai, José Beckhauser e o médico veterinário Renato dos Santos na década de 90, quando isso ainda era algo muito distante do mercado e mais presente no meio acadêmico, ainda assim, com poucas referências no Brasil. “Meu pai foi minha maior referência nessa conexão com a empresa, e o Renato, com quem aprendi muito (aliás, quase tudo que sei) sobre boi e bem-estar animal. Essa visão e esse compromisso com o bem-estar animal e humano e com o desenvolvimento da pecuária sustentável estão na alma do negócio, materializam o propósito da Beckhauser no mundo, e é isso que me conecta desde sempre a tudo o que “comprei” como missão e o compromisso de fortalecer cada vez mais”, explica a executiva, acrescentando que a palavra “humano”, foi adicionada recentemente, ao termo “bem estar animal”, pois traz mais clareza e reconhecimento a algo que a empresa já fazia, e que é outro pilar dessa sua conexão com a Beckhauser. “Vem muito antes do trabalho com as pessoas no campo, começa dentro da empresa, pelo olhar e o cuidado com cada pessoa da equipe. Esse é um valor que sinto que vem muito forte da minha mãe, Claudete, ressalta — é o principal legado dela na empresa. E é a junção desses dois valores, que consolidamos no termo BEAH – Bem-Estar Animal e Humano, somados ao valor da inovação, que eu tenho como minha principal tarefa: preservar e fortalecer na condução e construção da Beckhauser do futuro”.

Embora tenha entrado na empresa pelas portas da Comunicação, Mariana recorda-se que, numa empresa familiar e pequena, a gente sempre acaba se envolvendo com tudo, e, por isso, ela acabou se colocando também, num lugar de apoio de gestão, no sentido mais estratégico, alinhando a visão societária com esse novo olhar, que acabou se materializando na construção da nova fábrica, sonhada e construída a muitas mãos, cabeças e corações. Desde 1999, ela começou a ajudar, pontualmente, em eventos como as Agrishows, onde a empresa tinha uma participação muito ativa, tendo criado a Dinâmica da Pecuária, na época em que o setor ainda era mais presente no evento e organizado pelo Fundepec; ou o Informativo, que editavam mensalmente e ela assumiu primeiro a pauta, depois a diagramação, até chegar à edição.
Mas foi só em em 2005 que Mariana começou a se dedicar em tempo integral a Beckhauser. Um ano depois, teve início o primeiro trabalho com apoio de consultoria na área de gestão/pessoas voltado a busca de alinhamento societário. Mas seu foco ainda era muito forte no marketing, área a partir da qual conduziu uma reestruturação de toda a estratégia comercial e comunicação da marca. Aos poucos, esse trabalho foi perdendo espaço para o mais institucional e estratégico, até que, em 2015, ela decidiu que era hora de passar o bastão da comunicação, dedicando-se full time ao planejamento e questões estratégicas da marca, ano em que acabou sendo indicada pelo Conselho de sócios da empresa ao cargo de Vice-Presidente Executiva, com a missão de coordenar a implantação do plano de ações construído num trabalho muito profundo e cuidadoso de planejamento estratégico, feito com o envolvimento de todos os sócios, família e dos gestores das áreas operacionais da BH, funcionando como uma espécie de trainée, na preparação para a sucessão.

“ Em 2018, consolidamos uma etapa importante dessa estratégia de futuro, com a decisão da construção de uma nova planta fabril e da mudança da empresa para Maringá, juntamente com o anúncio dessa decisão à equipe, quando comunicamos também que eu assumiria, então, a presidência executiva da organização, com a responsabilidade de conduzir esse projeto de mudança – agora numa fase mais intensa”, recorda-se. Na sua visão, esse passo consolida um ciclo cuidadosamente preparado no planejamento sucessório do negócio e a evolução da governança da organização. A figura do Conselho, presidido pelo pai, José Beckhauser, passa a ser mais presente e ganha força, como norteador da estratégia e guardião dos valores, fortalecendo, assim, as demais estruturas de governança. “Desde 2015, meu papel foi o de fazer, principalmente, a ponte entre essas esferas, do Conselho e do estratégico, com o time de gestão e a operação, conduzindo a organização para a visão de futuro construída no plano estratégico do negócio, que passa por um movimento de profissionalização, de maior processualização e estruturação de controles e gestão, sobretudo financeira, para a qual contamos mais uma vez com um apoio importante de consultoria especializada, e de fortalecimento do time”, salienta Mariana, ressalvando que essa fase mais recente, a partir de 2018, da materialização da mudança com a construção da fábrica nova, inaugurada em 2020, enfatiza sua contribuição para a Beckhauser que existe hoje e que está em contínuo processo de construção para o futuro.
Mariana: delicada, mas também teimosa – Já soubemos até aqui nesse perfil, o que aconteceu com a Mariana executiva, nos últimos 20 anos e, consequentemente, com a BeckHauser que ela tem no seu DNA. Por isso, quisemos saber quem é essa mulher que ela se tornou, tentando descobrir quem é a Mariana de “carne e osso”, se ela tem problemas como todos nós, ou se é uma mulher maravilha. Que ela continua com aquela carinha de bebê, e passando a impressão de uma pessoa muito doce e delicada – quem a acompanha no mercado, sabe que sim. Mas não ficamos surpresos quando ela disse que sempre procura exercer a empatia, mas não abre mão daquilo que acredita e dos propósitos e objetivos que a transformaram na presidente executiva da empresa, dizendo que, para defendê-los, costuma ser inflexível, e até teimosa. Segundo seus pais, os amigos mais próximos e o “namorido”, ela vai além da conta. “Se encontro algo que desrespeita coisas básicas como a transparência, o respeito ao outro, os valores e políticas da empresa, não consigo fazer de conta que não é comigo. Procuro, sim, ser ‘delicada’, mas também sou muito firme nos meus posicionamentos e fiel ao propósito e aos valores – meus e da empresa, mesmo que isso exija fugir um tanto da delicadeza (rsrs). Sou muito direta e transparente – às vezes um pouco demais”, conclui.